sexta-feira, 30 de abril de 2010

Greve na Área Ambiental Federal: Mais do Licenciamento, Uma Carreira Também!!

Gostei muito do texto do Cristiano (conheço-o pessoalmente), que postei abaixo (http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2010/04/30/da-licenca-mermao-916467765.asp ). Texto bastante lúcido, até mordaz em alguns pontos, fruto de sua vivência no licenciamento ambiental para o setor de petróleo e gás. Como Cristiano sou Analista Ambiental, não do IBAMA, mas do Ministério do Meio Ambiente, mas já trabalhei nesse Instituto e conheço bastante gente de lá, algumas que, profissionalmente, respeito muito, verdadeiros professores de uma visão de mundo mais moderna, mais integrada, onde planta, terra, água, mar, flores, bichos, ar, sons, energia e um monte de produto e possibilidades perigosas são levadas em consideração para que a humanidade possa seguir adiante sem ameaçar o direito de usufruir-se o agora e nem o porvir.
Os profissionais da área de meio ambiente lidam com derramamento de óleo, com produtos químicos, com contaminação, com poluição, com Mata Atlântica, com Amazônia, com Cerrado, com Caatinga, com a Zona Costeira, com o Pantanal, com baleias, onças, araras, tartarugas, peixes-bois, orquídeas, sementes, ozônio, mudança do clima, CO2, Antártida, enfim, com os nossos sentidos, nossos sabores, nosso sentir, nossa constituição, nosso sofrer, nossas angústias e medos. Digo nosso/nossa por que envolve eu, você, sua filha, seu filho, sua mãe, seu avô, irmão, irmã, o bicho, a flor, a natureza e o que não vemos, mas está lá.
A proeminência do licenciamento ambiental ocorre devido acabar confluindo para ele quase tudo da área ambiental, em especial ao que se refere ao processo de autorização da instalação de obras e projetos com potencial de impacto ambiental (vide PAC I e PAC II). Contudo, ficar com essa visão de "pra que serve" é apequenar e reduzir o instrumento, os profissionais, o setor, os idealistas, os homens e mulheres que se dispõem, como Titãs e Titânides, a defender o mundo dos donos do poder, dos que se acham dominar supostas possibilidades e supostas esperanças de desenvolvimento e riqueza, nem sempre consolidadas, às vezes tão frágeis quanto muitas vezes equivocadas. A concretude dessas possibilidades, o seu sucesso e a nossa defesa contra potenciais fracassos, erros e até mentiras, passam, no Brasil, pelo crivo dos saberes e perspectivas - até algumas vezes pessoais - dos analistas ambientas do MMA, IBAMA e ICMBio.
Assim, se greve na área ambiental é mais do que o foco da preocupação sobre a liberação das licenças, é preciso também pensar e entender os profissionais que lidam com tantas perpectivas, visões, conquistas e, pode-se dizer, mesmo fracassos, pois são seres humanos, que merecem estar mais preparados, terem mais saberes, mais capacidades, mais oportunidade, mais reconhecimento, mais chefes mais bem preparados, mais salário correspondente às suas responsabilidades, uma careira, bem como merecem a visão de que se pode ser mais e ir mais adiante, afinal todos nós sabemos que econômica e comercialmente a medida do reconhecimento de um profissional se percebe (não devia ser assim) no valor dos seus honorários, apesar que conhecemos profissionais que ganham muito bem, por que a carreira assim lhe permite, mas que estão abaixo dos medíocres.
Soube hoje, de noite, que uma liminar declarou a greve ilegal. Uma coisa é a ilegalidade da greve, outra coisa a legitimidade de um movimento em buscar o que é melhor para proteger e consolidar ideais, visões de mundo, esperanças, sonhos, medos e precauções. E trabalhar com meio ambiente compreende tudo isso. Ghandi não agredia, mas a dignidade de suas perspectivas e, algumas vezes silêncio, gritavam e perturbavam seus destratores....

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