segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A Importância da Engenharia Costeira

Defendi, em março de 1990, minha tese de mestrado pela Coordenação dos Programas de Pós-Gradução em Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordando o tema “Estabilidade Hidráulico-Sedimentológica dos Canais de Maré – O Caso da Lagoa Rodrigo de Freitas - RJ”. Com a divulgação dos resultados alcançados e as conclusões apresentadas na minha tese, orientada pelo Professor Dr. Paulo César Colonna Rosman, foi que descobri a importância da Engenharia Costeira para o país. Oriundo do curso de bacharelado em Oceanografia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e da primeira firma de hidrologia do país, a antiga Hidrologia S. A., Indústria e Comércio (já extinta), entidades para as quais me doei em muito, minha visão sobre o mar já era mais científica e tecnológica do que lúdica. Ventos, ondas, marés e correntes já eram assuntos familiares. Mas foi no curso de Engenharia Costeira da COPPE que “mergulhei”, em detalhes mais sensíveis e mais íntimos dos fenômenos físicos costeiros, marítimos e marinhos. Não que os saberes me passados pelos professores da UERJ e a experiência prática conquistada na firma Hidrologia me fossem menores, simplesmente os novos saberes abertos na Engenharia Costeira aperfeiçoavam a visão do mosaico das escalas matemáticas envolvidas, compreendendo os oceanos, os estuários, as lagunas, os sedimentos, os grãos das praias. O modelo antes tão natural passou a ser compartilhado com o modelo matemático. O sol e lua deixaram de ser vistos de forma individual e passaram a ser analisados em componentes harmônicos. O círculo e a meia-lua foram, a partir de então, trabalhados juntamente com pontos, triângulos e retângulos. A escala natural passou a ser acompanhada de visões a respeito de modelos reduzidos e, finalmente, portos, canais e espigões passaram a interagir com os navios no mundo físico, clamando a cautela que se deve ter na implantação de estruturas físicas na zona costeira. Esses novos fundamentos – ou talvez antigos matematicamente mais trabalhados – foram os subsídios para desenvolvimento da minha tese de mestrado, que, no escopo da Engenharia, não tinha nada demais, contudo, para a comunidade científica carioca, composta de sanitaristas, biólogos, geólogos, engenheiros (pouquíssimos costeiros) e geográfos, tinha: uma total revisão das soluções até então apresentadas para resolver-se o problema recorrente da Lagoa Rodrigo de Freitas, à luz da novidade da visão costeira dos fenômenos. Foi uma polêmica tremenda. Jornais, revistas, programas de televisão, debates. Tudo isso porque os conceitos físicos e matemáticos apresentados na tese eram, na maioria, novidades para a comunidade científica brasileira, não dos Estados Unidos, onde estudaram pessoas como o Rosman, o Claudio Neves. Também não era novidade para professores como a Enise Valentini, o Gilberto Fialho, o Prof. Parente e o Prof. Sérgio Spheir. Confesso que no início passei dificuldades com tanta matemática, mas depois descobri que era necessário para entender a magia dos fenônemos. Até hoje quando lêem a minha tese me perguntam: você fez aqueles cálculos todos? Respondo: - não, fiz muito mais, mais equações, várias passagens foram cortadas. Hoje, passados 18 anos da defesa, quando participo de reuniões sobre assuntos costeiros me sinto muito feliz por certos conceitos (canal de maré, camada anaeróbica, etc), que deixaram tanta gente espantada, se tornarem tão comuns. Nada como ser útil. Assim é a Engenharia Costeira para o Brasil, útil, moderna, diferente sendo parte da engenharia civil. Pode-se trabalhar com a gestão costeira, com obras marítimas, com os fenômenos atmosféricos, com as estabilidades sedimentológicas, com as mudanças climáticas. O debate sobre esse ramo da engenharia não é novo, pode-se até remontar, se quisermos, às rusgas entres James Buchanan Eads e Andrew Atkinson Humphreys, na década de 1870, entorno do que seria melhor para o rio Mississipi, mas prefiro ficar com as palavras de Morrough P. O’Brien, Professor Emérito da Universidade da Califórnia, sobre a Engenharia Costeira: “Não é uma especialidade nova nem separada da engenharia e não existe qualquer implicação sobre a formação de um novo tipo de engenheiro e uma nova sociedade. Engenharia Costeira é primeiramente um ramo da Engenharia Civil que se apóia fortemente nas ciências de oceanografia, meteorologia, mecânica dos fluidos, eletrônica, mecânica estrutural, entre outros. É também verdade, porém, que o projeto de obras costeiras envolve muitos critérios que são estranhos a outros segmentos da engenharia civil e os novatos no ramo devem avançar com cautela. Ao longo das linhas de costa do mundo, numerosas obras de engenharia em variados graus de desintegração testemunham a futilidade e o desperdício resultante do desprezar as tremendas forças destruidoras do mar. Muito pior que a destruição de frágeis obras costeiras é o dano à costa adjacente causado por estruturas projetadas na ignorância, e eventualmente em desprezo, aos processos litorâneos presentes na área”. Assim, bem-vindos Oceanógrafos, bem-vindos Engenheiros Costeiros. Todo um mundo a conquistar e saberes a dividir. Em um país com essa costa toda (mais de 8.500 Km) os Engenheiros Costeiros têm muito a contribuir. Lagoa Rodrigo de Freitas, guardamos a esperança de te ver sempre bela e despoluida, sem mortandade de peixes e com pequenos barcos singrando suas águas vívidas.

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